quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Uma aventura no pé da serra

Muitos empreendem longas viagens para encontrar aventura. Bem, eu fui pra Pacatuba. Está a mais ou menos 20 km de Fortaleza, mas esconde grandes desafios, principalmente ali no chamado Conjunto Jereissati. Fomos eu e os meus colegas Márcio e Felipe passar um mês estagiando no posto de saúde do dito conjunto.

No primeiro dia logo vimos o que haveria de ser o mês de outubro para nós. Um médico e uma enfermeira que não gostavam de trabalhar denunciavam um mau início. Quiseram tratar-nos como médicos literalmente da localidade. Tínhamos até agenda com nossos nomes e pacientes especialmente desginados para nós. De acordo com o código de ética médica nós não podíamos atender ninguém sem supervisão de um médico. Após recusas de nossa parte aceitamos atender enquanto que o médico analisava nossas condutas. Menos mau!

A população muito sedenta de atenção, muito mesmo. A amoxicilina era o medicamento mais solicitado pelos doentes, mesmo que padecessem de um simples resfriado. Gastamos muito tempo para explicar-lhes que isso somente era necessário em casos especiais. Uma paciente ousou dizer que assumiria a responsabilidade de tomar o medicamento, mesmo que não precisasse, mas nós não podíamos ceder a essa pressão desnecessária pelo uso de antibióticos. Entendemos que a amoxicilina era a panaceia, o elixir da vida para aquele povo e quem o negasse era seu inimigo.

Tentamos ouvir cada paciente com seus queixumes, mesmo que para isso fosse necessário suportar o povo fora do consultório a bater na porta para que agilizássemos os atendimentos. Por muitas vezes, queríamos não tolerar a pressão dos próprios usuários, mas tentávamos sempre controlar a situação com um carão bem dado.

O saldo foi positivo. Por quê? Porque lidamos com uma situação limítrofe, com pacientes de verdade e doenças verdadeiras. Tomamos decisões sérias, supervisionados pelo médico, e hoje estamos mais seguros para trabalhar futuramente no interior. A aventura foi grande e no último dia merecemos uma recompensa: um passeio no balneário das Andreas (foto). Mas uma coisa é certa: eu ainda tenho sonhos (ou seriam pesadelos) de pacientes batendo na minha porta e gritando :"Eu quero amoxicilina!"


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